Na nossa segunda postagem de times históricos, destacaremos o Independiente da Argentina, especialmente da década de 70, década em que ganhou praticamente tudo, não é a toa que é o maior campeão da Taça Libertadores, com 7 conquistas, confira então a sua trajetória.
A lendária história dos diabos de Avellaneda, mítico bairro de Buenos Aires onde o futebol se confunde com a alma, campeão do milénio, abrigo de técnicos alquimistas, de Nito Veiga a Menotti, e, desde os anos 20, profeta do futebol bonito nos pés de magos como Orsi, Seoane, Erico, Grillo, Cecconato, Lacasia, Cruz, Mucgeli, Pavoni, Giménez, Navarro, Pastoriza, Trossero, Bertoni, Burruchaga, Giusti, Insúa e o grande maestro Bochini...
Fundado em 1 de Janeiro de 1905
Onde Joga: Estádio Almirante Cordero
Campeão Argentino: 1922, 1926, 1938, 1939, 1948, 1960, 1963, 1967, 1970 e 1971 (Metroplitano), 1977, 1978, 1983 (Metroplitano), 1989, 1994 (Clausura).
Copa Libertadores: 1964, 1965, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1984
Super Copa Libertadores: 1994 e 1995
Copa Inter Americana: 1972, 1973 e 1975
Taças das Taças Sul Americana: 1995
Taça Intercontinental: 1973 e 1984
Carregando quase todos um melancólico semblante, onde o Tango parece alma, os infinitos bairros de Buenos Aires adoptaram o futebol como uma extensão da sua personalidade. Entre muitos, está o futebolisticamente famoso Avellaneda, morada do velho Racing, o clube de Perón, grande campeão do inicio do século. O emblema que, no entanto, iria tornar mais famoso este mítico viveiro de talentos, seria fundado em 1905 por um grupo de rapazes empregados do armazém La Ciudad de Londres, que, embora jogando no clube da empresa, o Maipú Benfield, estavam fartos de ter de pagar uma cota mensal para o poder fazer. Face a esta situação, resolveram revoltar-se e criar um novo clube que teria de ter no nome algo que simbolizasse a liberdade, sem obrigações financeiras. Reunidos num bar, conversaram e elegeram, por proposta de Rosendo Degiorgi, o primeiro presidente, o nome Club Atlético Independiente. Em 1912, após sete anos de gestação, o clube alcançou a 1ª Divisão, cedo destacando-se pelo seu futebol de ataque, que levaria á conquista dos primeiros títulos, em 23 e 26, apenas com jogadores formados nas escolas de Avellaneda, como Canavery, Lalín, Ravaschino, Orsi e o negro Seoane, a famosa linha avançada, responsável pela alcunha de Diabos Vermelhos que até á eternidade passou a definir o onze Independiente. Um estilo belo e senhorial que se manteve nos anos 30 e 40, com o inicio da era do profissionalismo, onde surgiu um fantástico trio ofensivo composto por el pibe António Sastre, o homem que nos ensinou a jogar futebol, dizem os antigos, o goleador paraguaio Erico e o nobre da gambeta Vicente De la Mata, de quem juram os velhos jornalistas nunca o ter visto fazer um passe, sem antes driblar, pelo menos, dois adversários. Foi o supremo ídolo da hinchada independiente, que cantava na bancada e a caminho do Estádio: A donde va la gente?...A ver Don Vicente!, ou La gente ya se mata, por ver a De la Mata! Juntos fizeram mais de 556 golos e decoraram de rojo vivo, as ruas e becos da Avellaneda.
ARSENIO ERICO: O Paraguaio goleador
Durante a guerra do Chaco, entre a Bolivia e o Paraguai, muitos jogadores paraguaios sairiam do país integrando uma equipa da cruz vermelha para arrecadar dinheiros destinos a auxiliar os feridos de guerra. Arsenio Erico foi um desses casos, mas quando, na Argentina, foi visto por dirigentes do Independientes, logo cativou os seus olhares. Convidado a ficar, disse logo que sim, ingressando no clube rojo em 1924, com apenas 18 anos. Alinhou entre 1934 e 1946, tornando-se o maior goleador de todos os tempos no campeonato argentino, apontando 293 golos em 325 jogos, record que permanece até hoje. O seu jogo, no entanto, não resumia aos golos. Ilusionista dos espaços curtos, driblava e planava como uma pluma, pousando depois sobre a bola como um falcão sobre a sua presa. Sempre sorridente como que pedindo desculpas por fintar tantas vezes os adversários. Adorava dar toques de calcanhar e Cátulo Castillo dedicou-lhe um tango onde a certo ponto se tocava: Pasará un milénio sin que nadie repita tu proeza, del pase de taquito ou de cabeza.
ANOS 50/60: BAILADOS COM BOLA
A dinastia de grandes linhas atacantes do Independientes continuou nos anos 50, quando apesar de não ter sido nenhuma vez campeão, causaram sensação ao golear o Real Madrid de Di Stefano por 6-0, durante uma digressão pela Europa. Pela primeira vez na selecção argentina o ataque era composto por jogadores de uma só equipa: Mucgeli, Cecconato, Lacasia, Grillo e Cruz. A cultura do futebol bonito passava de geração em geração, como explica Nito Veiga, glória dos anos 40, e depois treinador em 69 e 70: Era uma questão de filosofia. Para o Independiente o fundamental é dar espectáculo. Do meu tempo de jogador, ficou o prazer do bom futebol, depois como técnico, tentei incutir a mesma espírito que nos tornou famosos em todo o mundo. Ernesto Grillo era uma estrela de cinema mudo jogando futebol. Driblador, goleador e visceral adepto do Independiente, chorou quando em 1957 o clube decidiu transferi-lo para o Milan, de Itália. De 49 a 57, fez 192 jogos e marcou 90 golos. Toda a Argentina adora o jogo sedutor do Independiente, que parecia fazer do futebol um bailado com bola, mas só nos anos 60 é que os Diabos Vermelhos conseguiram decorar com títulos esse jogo bonito, conquistando os campeonatos de 60, 63 e 67 e a Copa Libertadores de 64 e 65. Foi a década de Maldonado, Walter Giménez, o guarda redes Santoro e o central de ferro Ruben Navarro, sublimada pelo onze que logrou o título de 67, onde já estavam o lateral esquerdo Ricardo Pavoni, famoso pelos golos que salvava sobre a linha de baliza, e o patrão do meio campo Omar Pastoriza, atrás de mais uma célebre máquina atacante, composta por Raul Bernao, Hector Yazalde, Raul Savoy, Luís Artime e Aníbal Tarabini. Era o prenúncio dos fabulosos anos 70, a década de maior esplendor na história do Independiente.
OMAR PASTORIZA: El Pato da média cancha
No futebol, existe uma classe de jogadores que basta olhar para eles em campo, para se ter a certeza de serem dotados de grande personalidade. El Pato Omar Pastoriza, o Caudillo do Independiente de 66 a 72 era um desses casos. Sempre de cabeça levantada, tocando a bola como se lhe desse ordens, foi grande como jogador e treinador, vencendo, no conjunto, 9 campeonatos. Quando chegou, no entanto, vindo do Racing Club, foi jogar para ala direito, mas cedo se viu que o seu perfil de líder exigia a camisola nº10, tornando-se, desde esse dia, o patrão da chamada famíla roja.
OS FABULOSOS ANOS 70: CAMPEÃO INTERNACIONAL DO MILÉNIO
Nenhum clube no mundo conquistou tantos títulos internacionais, 15, como o Independiente: 7 Copas Libertadores (64, 65, 72, 73, 74, 75 e 84), 2 Super Taças sul americanas (94 e 95), 2 Taças Intercontinentais (73 e 84), 3 Copas interamericanas (72, 73 e 75) e 1 Taça das Taças sulamericana (95). Uma galeria mágica de trofeus que faz dos rojos da Avellaneda, o campeão internacional do Milénio, título que foi comemorado, com grande solenidade, nos últimos dias do século, numa fabulosa festa que reuniu várias gerações de hinchas no Estádio dos seus sonhos. Para atingir esta dimensão mitológica, contou com um must de geniais jogadores, onde brilharam mais intensamente Enzo Trossero, Daniel Bertoni e o grande Ricardo Bochini, que, juntos, fizeram da década de 70 um paraíso futebolístico. Trossero era o tipo de jogador que os adeptos adoram porque luta durante 90 minutos. Foi um central com sentido ofensivo, que fez 55 golos em 308 jogos pelo Independientes. Bertoni era o espelho de Bochini, que o adoptou como um irmão futebolístico. Dentro do relvado trocavam olhares, passes e formaram uma dupla quase perfeita, que, muitas vezes, ia ás tabelinhas, de uma área á outra. Tal como Bocha, não conheceu outro clube na Argentina.
RICARDO BOCHINI: BIEN, MAESTRO!, disse Maradona
É difícil encontrar em todo o mundo um jogador que ao longo de toda a sua carreira se tenha identificado e dedicado tanto a um clube, como Bochini com o Independiente, onde jogou durante 20 épocas, toda a carreira, entre 1972 e 1991, realizando 638 jogos oficiais marcando 97 golos e conquistando 4 Campeonatos, 4 Libertadores e 2 Intercontinentais. Para os hinchas do Independiente só duas coisas são sagradas na vida: La vieja e El Bocha. A admiração pelo seu talento era tanta que quando pegava na bola, driblando e tocando como um poeta, todos os adeptos acreditavam que a jogada podia acabar em golo. Os seus passes pareciam desenhados a régua e compasso e a sua agressividade com a bola lembrava um domador a amansar uma fera. Num ápice, tinha todo o jogo nas mãos. Foi descoberto em Zárate, pelo caçador de talentos Luís Ciriulli que o levou a treinar ao Boca Juniores, onde o técnico Diego García disse que, sim senhor, era bueno, mas faltava-lhe un poco.... Foi então que surgiu o Independiente, onde Nito Veiga, então á frente das camadas jovens, logo ficou ele, após o ter visto jogar apenas 10 minutos. A verdade, era que, apesar de ser algo frágil fisicamente, 1, 68 m. e 67 kg, não lhe faltava nada para ser um dos maiores maestros da história do futebol argentino. Como explicar? Era Woody Allen a jogar futebol, como lhe chamou Valdano que definiu o seu futebol como o de um ladrão que ausculta a impenetrável caixa forte, enquanto os seus dedos procuram o segredo da chave, até que de repente... clic! Sim senhor, uma bola jogada por ele abria todos os aloquetes defensivos. Bastava-lhe um clic. Nunca foi, no entanto, uma personalidade pacifica. Nunca falou bem de um director, porque nunca sentiu admiração por nenhum. Recusou os empresários e desconfiava dos jornalistas Foi sempre um duro crítico dos treinadores defensivos e por isso elogiava Menotti, apesar deste não o ter levado aos Mundiais de 78 e 82. Por ironia, acabou por ser um técnico que sempre criticou por ser defensivo, Billardo, a convocá-lo para o Mundial-86, onde jogou apenas os últimos 5 minutos da meia-final contra a Bélgica, quando a Argentina ganhava por 2-0, por isso disse que não se sentia campeão do mundo. Quando o viu entrar em campo, Maradona homenageou-o com estas palavras: Bien, Maestro! Retirou-se aos 37 anos. Foi uma das últimas reservas espirituais de um futebol maravilhoso, em estado puro, que se nos escapou pelas mãos como areia fina por entre os dedos...
MENOTTI: A UTOPIA E A ARTE
« Através da forma como faço jogar as minhas equipas. eu falo da sociedade em que gostaria de viver » Cesar Luís Menotti, El Flaco, 59 anos, homem de esquerda, intelectual do futebol, é a referência máxima dos treinadores argentinos. Hoje, com 63 anos, continua a cultivar o mesmo estilo blazé, os mesmos cabelos compridos, agora grisalhos, calças de ganga e uma eterna pose de rebelde com causa. A causa do futebol arte, criativo e ofensivo, jogado com prazer e sorriso nos lábios. Abandonou, porém, a utopia que faz avançar o mundo: Pertenço a uma geração que lutou muito para mudar o mundo. Hoje, olhando o mundo actual, pergunto-me se valeu a pena. Um mundo onde poucos têm tudo e muitos não têm nada. Não me agrada. Sempre vivi com coragem e esperança. A coragem permanece, a esperança lego-a aos mais jovens. A mesma coragem, afinal, que lhe permitiu treinar a selecção sem esconder as suas ideias políticas em plena ditadura militar. Desde 1983, o confronto futebolisticamente filosófico que opõe os dois técnicos argentinos campeões do mundo, Menotti, em 78, e Bilardo, em 86, transformou-se para os teóricos do futebol num símbolo mundial do conflito entre duas formas de entender o jogo: de um lado, os adeptos do belo jogo, ofensivo e virado para o prazer, do outro, os adeptos do realismo, da ditadura da táctica e do resultado. O estilo inato do futebol argentino está na base da ideologia de Menotti: Nunca peço a um jogador argentino que corra ou marque um adversário, apenas lhe peço que invente. Entra no campo e inventa! Billardo, El Narigon, afirma, por sua vez afirma-se adepto do realismo, do espirito de sacrifício e da ditadura do resultado: o espectáculo é para o teatro ou para o cinema, no futebol o importante é ganhar!. Duas formas de entender e viver o fenómeno dos relvados, que dividiu em duas facções técnico-tácticas os treinadores do fútbol argentino. Billardo nunca treinou o Independientes, Menotti, por sua vez, que após o título nacional com o Húracan, em 73, e os sucessos na selecção, passou por um longo ciclo de desilusões, recuperou o seu prestígio quando treinou o Independiente entre 1996 e 1999 e foi eleito o treinador do ano na Argentina, voltando a profetizar as suas teorias sobre o futebol arte.
A HERANÇA DO FUTEBOL ARTE
Guiado pelo velho Bochini, o Independientes manteve nos anos 80, sob orientação da velha glória Pastoriza, o seu estilo virtuoso e demolidor, onde despontavam ao lado dos consagrados, novas referências como Burruchaga e Giusti, mitos da selecção campeã mundial em 86. Em 88/89, com figuras como Insúa, Ludueña e Alfaro Moreno, logrou, treinado por Jorge Solari, novo titulo nacional. As últimas grandes estrelas dos diabos vermelhos, como Gustavo López, Rambert, Garnero, Rotchen, Panchito Guerrero e, entre outros, Morales, souberam encerrar o século honrando a história artística do clube e, sobretudo, acarinhando o seu perfil técnico e belo, como confessa Gustavo López, hoje a jogar em Espanha: O meu velho é hincha do Independiente e desde que eu nasci, transmitiu-me a mesma paixão. Jogar neste prestigioso clube é muito difícil. É obrigatório estar identificado com o seu futebol brilhante, fino e puro. Eu entendo isso, porque tenho o Independiente no sangue...
Fonte: Planeta Futebol
2 comentários:
Estou querendo baixar o hino do independiente, vocês tem?
Sds/Roberto-Ilhéus
robertobarbosadesouza@hotmail.com
Boa tarde Roberto, irei procurar assim que encontrar postarei no blog.
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